quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Joe Sacco e o jornalismo em quadrinhos


Juliana Maria Carvalho
Professora e redatora
Referência mundial quando se trata de unir histórias em quadrinhos e jornalismo, Joe Sacco esteve na FLIP para participar da mesa-redonda “A História em HQ”. O autor nasceu em 1960 em Malta, mas logo se mudou para Austrália e EUA. Suas obras mais recentes são reportagens em HQ sobre guerras e conflitos políticos contemporâneos, como o Livro Palestina: uma nação ocupada; sua segunda parte, Palestina: na Faixa de Gaza e Área de Segurança: Gorazde.
Para escrever esses livros, Sacco mudou-se para Israel e passou a observar de perto aquilo que realmente influenciava a vida das pessoas. Ele já recebeu importantes prêmios nas áreas em que atua, como o American Books Award em 1996 e, no Brasil, o prêmio HQ Mix de melhor graphic novel estrangeira em 2000. Tanto reconhecimento o levou a ser comparado ao americano Art Spiegelman, o único quadrinista a receber o Prêmio Pulitzer de Jornalismo.
Sobre os dois volumes da série Palestina, o autor diz que simpatiza com a causa daquele povo, mas sem ativismo: "Tento dar voz a eles, ainda que isso às vezes seja prejudicial à minha imagem. Não sinto que deveria ser um representante do povo palestino. Meu papel é fazer quadrinhos, uma crônica do tempo em que vivemos". O autor diz ainda que, nos dois volumes, já há algumas coisas que estão ultrapassadas, mas no final é uma história sobre ocupação. A população ainda vive basicamente a mesma situação, e ele crê que isso piorou desde que fez os livros. Especialmente no primeiro volume, Sacco brinca com a ironia, já que o humor sempre fez parte de seu trabalho. No último livro, Notas sobre Gaza, há um pouco mais de humor, mas não o suficiente para deixá-lo equilibrado.
Na transição dos quadrinhos de humor para os quadrinhos jornalísticos, nota-se também que o traço do autor ficou mais realista, o que ele julgava necessário para que seu trabalho fosse considerado jornalismo sério. Esse é, porém, um caminho com volta, já que Sacco gostaria de voltar a trabalhar com humor.
Em sua participação na FLIP, falou sobre a forte influência da história de sua família em sua obra. Seus pais cresceram em Malta, que foi fortemente bombardeada na Segunda Guerra Mundial. O autor contou que ouvia na mesa muitas histórias sobre a guerra, sobre a vida de seus pais como civis no meio da guerra. Em relação ao conflito palestino-israelense, seu interesse não era ver gente atirando, mas o que o motivou foi uma questão de justiça. Ele tinha raiva da ocupação dos EUA, tinha raiva dos impostos que pagava, pois seu país apoia Israel com esse dinheiro. Seu principal interesse era relatar como as vidas das pessoas eram afetadas diariamente, e não só aquilo que se lê exaustivamente nos jornais.
Sobre o trabalho de quadrinista, Sacco enfatizou que a história em quadrinhos apresenta múltiplas imagens, e isso não é só falar de imagem. Ele mostrou cenas em que o passado e o presente estavam lado a lado na mesma página, o que permite que o leitor fique indo e vindo. “Eu posso levar o leitor de volta ao passado se eu fizer as perguntas corretas e as pesquisas corretas com fotos, sobre os uniformes, prédios e coisas assim”, diz. Ele enfatiza que, com múltiplas imagens, você consegue colocar muita informação visual que pareceria estranha em prosa; como exemplo, cita o período em que estava em Gaza pela primeira vez, há quase 20 anos: “havia grandes chuvas, tempestades e lama em toda parte. Se isso for escrito em prosa, pode ser mencionado uma vez, mas não se menciona novamente à medida que a história evolui. Nos quadrinhos existem as múltiplas imagens, então no cenário sempre é possível mostrar a lama, as inundações de uma imagem para outra, não importa o que está acontecendo à frente. Posso desenhar dois personagens conversando sobre um jogo de futebol, por exemplo, mas o leitor sempre verá a lama e a inundação, no próximo quadrinho novamente, e isso vai segui-lo. Um escritor que escreva prosa não vai ficar lembrando o leitor a todo momento: aliás tinha lama, aliás, tinha lama e sucessivamente. Não há como isso acontecer na prosa, e creio que os quadrinhos ajudam a criar essa atmosfera.
Em entrevista dada a um grande jornal, Sacco falou sobre seu método de composição. Disse se comportar como qualquer jornalista, fazendo pesquisa prévia dos lugares sobre os quais vai desenhar, e muito mais entrevistas do que o necessário para a versão final. "O jornalista é como um médico. Um remove órgãos; o outro, histórias. O que faço é tentar conduzir a forma de narrar do entrevistado." Enquanto conversa, ele busca informações visuais para compor a história. Por isso, acaba fazendo perguntas inusitadas do tipo "como você segurava a arma na época?".
Para não ser traído pela memória, já que leva até sete anos para concluir um livro, leva sempre consigo uma câmera fotográfica. "Minhas fotos servem como referências. Também escrevo notas para mim mesmo que servem como lembretes. 'Desenhar crianças', por exemplo."
Os quadrinhos de Sacco representam um estilo jornalístico que pode ser amplamente aproveitado em sala de aula. Os dois volumes de Palestina e Notas sobre Gaza são indispensáveis em uma biblioteca para adolescentes e jovens e muito úteis para entender os conflitos naquela região. Os jovens se sentem mais atraídos pelo ritmo veloz e pelas imagens dos quadrinhos, um gênero híbrido que não deixa o texto escrito de lado. As aulas de História e Geografia podem ficar muito mais ricas e interessantes com a utilização desse material fantástico. Que tal apresentar esse autor e esse novo gênero aos seus alunos?
Publicado em 13/09/2011
Acesso em: 14/09/11 – 11h38

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Características dos balões - HQ

Quadrinhos não duplicaram as funções do antigo sistema de leitura e expressão. Eles adicionaram novos caminhos. Quando o leitor lê o conteúdo dos balões sua preocupação primária é entender as palavras que ali estão. Entretanto, os quadrinhos são uma arte também visual, e há uma preocupação com as qualidades visuais dos balões. Os balões, além de inserir o discurso direto na narrativa, participam também da imagem, transformando o elemento linguístico em elemento imagístico.
Podemos salientar o balão de fala, cujo contorno é contínuo e forte, nítido. Já o balão de pensamento tem outra forma. Ele é irregular, ondulado ou quebrado. Pensar é algo bem diferente de falar em voz ainda (ainda que seja um monólogo), por isso a distinção entre os balões é pertinente. Enquanto o balão de fala representa o diálogo mantido entre as personagens, o balão de pensamento pode ser entendido como uma intromissão do narrador-onisciente na cabeça das personagens, informando ao leitor o que eles pensam. Por causa da diferença visual entre os balões, a representação da fala e dos pensamentos nos quadrinhos é muito mais simples do que na literatura.

O formato dos balões, no entanto, pode variar de acordo com as intenções do contador de histórias. O contorno do balão pode ser tremido, indicando medo ou emoção forte, pode ser recortado, que indica explosão verbal ou cólera, ou mesmo dentado, fazendo o leitor perceber que o som está sendo emitido por uma máquina. Podemos também colocar alguns contornos metafóricos, como as estalactites que indicam frieza na resposta ou pequenas flores que indicam o oposto. Robert Benayoun  consegue caracterizar 72 espécies de balões entre as quais o balão censurado, em cujo interior há símbolos como caveiras, bombas etc, o balão personalizado, cujos caracteres tipográficos indicam a personalidade ou nacionalidade do falante e até mesmo o balão mudo, que se apresenta vazio. Em quase todos os balões, enfim, são apresentadas relações ideogramáticas entre imagem e conteúdo expresso. O balão propriamente dito não corresponde a nenhum objeto da imagem, mesmo assim, o desenho do balão ajuda o leitor a identificar seu conteúdo expressivo.
Acesso em: 09/11/11 – 15:05

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Aproveite!

domingo, 4 de setembro de 2011

Matéria publicada na "Revista Nova Escola"



Aulas que estão no gibi

Ao criar histórias em quadrinhos, turma de alfabetização aprende a transmitir suas ideias utilizando o desenho e a palavra
Denise Pellegrini

Houve tempo em que levar revista em quadrinhos para a classe valia repreensão e castigo e o aluno ainda se arriscava a perder o gibi. Pois a professora Cynthia Nagy, do Colégio Mopyatã, na capital paulista, fez exatamente o contrário: usou o material preferido de seus alunos da pré-escola para animar suas aulas de Português e Educação Artística. "Enquanto eram alfabetizadas, as crianças aprenderam as características desse tipo de linguagem e, no final do ano, estavam desenhando e escrevendo histórias", relata Cynthia. "As revistas têm a particularidade de unir duas formas de expressão cultural: a literatura e as artes plásticas", analisa a professora.
Waldomiro Vergueiro, coordenador do Núcleo de Pesquisas em História em Quadrinhos da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (USP), endossa as palavras de Cynthia. "Cada vez mais os produtos culturais se entrelaçam", afirma. No caso dos quadrinhos, o resultado é um veículo extremamente atraente para as crianças. "Por isso, considero bastante oportuna sua utilização em sala de aula", completa Waldomiro.

Além disso, a experiência se enquadra tanto nos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil quanto nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN). Ambos falam da importância do trabalho com diferentes tipos de texto, entre eles os quadrinhos. De acordo com a consultora de Português Maria José Nóbrega, uma das elaboradoras dos PCN de 5ª a 8ª séries, entre as vantagens de utilizar esse recurso na alfabetização está a possibilidade de a turma ler textos só em letras maiúsculas. "Isso permite exercitar a autonomia da leitura recém-conquistada", justifica.


Investigando os balões

A experiência de Cynthia começou com o material de que ela dispunha em sala. Colocados num canto, os gibis estavam sempre ao alcance de seus 22 alunos. Quem não sabia ler escutava as histórias contadas por ela e pelos sete colegas já alfabetizados. As primeiras historinhas começaram a ser feitas depois de a classe conversar sobre as revistas preferidas.

No princípio, os pequenos copiavam os desenhos das revistas com papel vegetal e mudavam apenas o texto. "Expliquei que essa foi a técnica utilizada pelos primeiros desenhistas no Brasil", conta Cynthia. Para Maria José, informações históricas como essa são importantes para que a criança conheça bem o gênero de linguagem com que está trabalhando. "Também é interessante mostrar à classe personagens desconhecidos", recomenda. Esse exercício fez parte da rotina das aulas de Cynthia. "Eu e as crianças procurávamos tiras nos jornais e colávamos as melhores num cartaz."

A pesquisa foi uma constante no projeto. Um dos primeiros itens investigados pelos alunos foram os balões. As crianças recortaram das revistas vários tipos, como os de fala, pensamento, sonho, amor, grito, cochicho e uníssono. Em seguida, estudaram o que eles continham. Viram que, além de palavras comuns, traziam onomatopéias ou mesmo um simples desenho. "Tudo o que as crianças descobriam era socializado com os colegas nas discussões em roda", diz Cynthia.

http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/alfabetizacao-inicial/aulas-estao-gibi-423458.shtml

domingo, 28 de agosto de 2011

Materiais adicionais:

Veja como utilizar as histórias em quadrinhos em sua prática pedagógica.

Para saber mais leia:

http://www.mel.ileel.ufu.br/pet/amargem/amargem2/estudos/MARGEM1-E31.pdf

http://www.pucsp.br/pos/lael/intercambio/pdf/ramos.pdf


http://www.4shared.com/document/45mt8lP5/moacy_cirne_-_a_exploso_criati.html


Sites para elaboração de Histórias em quadrinhos.

Quer criar suas próprias HQs?
Acesse os sites:

www.turmadamonica.com.br/software/fwelcome.html
www.storybird.com

Agora é só soltar a criatividade!

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Reportagem relacionada com o tema:




10/08/2011 10:54:56
Turma da Mônica faz arte no MAMM...literalmente!

Museu em Juiz de Fora recebe exposição “História em Quadrões”, de Mauricio de Sousa

Sem qualquer trocadilho, a Turma da Mônica pinta o sete no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM), em Juiz de Fora (MG), a partir de 12 de agosto, quando o espaço recebe a exposição História em Quadrões – Pinturas de Mauricio de Sousa. Uma mostra, na qual o desenhista faz releituras de grandes obras-primas da história da arte mundial.

Mauricio dedicou-se a essa produção de pinturas e esculturas a partir de 1989. A proposta é estimular crianças e jovens a visitarem os museus aprendendo sobre os grandes mestres das artes e, ao mesmo tempo, se divertirem. Assim, Mônica, Cebolinha, Chico Bento, Cascão e Magali, ao lado de alguns outros tantos personagens do desenhista, fazem poses famosas numa alusão às importantes criações das artes plásticas.

Leonardo da Vinci, Michelangelo, Monet, Van Gogh e Portinari: Mauricio de Sousa voou longe e trouxe 22 obras, entre pinturas (acrílica sobre tela) e esculturas, nos quais seus personagens parodiam grandes ícones da história da humanidade. Todos expostos na galeria Convergências do MAMM.
Disponível em:
http://www.meujornal.com.br/cbm/jornal/materias/integra.aspx?id=1023970
Acesso em: 19/08/2011